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Lei do Galpão levanta debate no setor cultural p3b

Conselho Municipal pede pausa no andamento de projeto de lei do vereador Andrei Barboza 6h4w52

Andrei Barboza argumenta que proposta busca resguardar
direitos e não impor restrições – Foto: Jacson Miguel Stülp/Câmara de Vereadores

Fabrício Goulart
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A proposta de lei que visa regulamentar ensaios e eventos de entidades filantrópicas de Santa Cruz do Sul acendeu um alerta no setor cultural. Apelidado de “Lei do Galpão”, o Projeto de Lei 52/2025, de autoria do vereador Andrei Barboza (PDT) é alvo de dúvidas e discussões. Diante da repercussão, o Conselho Municipal de Cultura pediu, na última semana, uma pausa na tramitação no Legislativo, para ampliar o debate com a sociedade.

A principal questão é que a proposta restringiria as atividades das entidades culturais. Isso porque a emissão sonora teria limites definidos conforme a área em que ocorrem. Além disso, o projeto contempla, para cada entidade, dois ensaios na semana e um evento ao mês, o que seria bastante , principalmente diante de competições. Preferencialmente aconteceriam, ainda, entre quartas-feiras e madrugadas de sábado para domingo.

Barboza defende a proposta afirmando que o intuito é dar segurança e não restrição. Segundo ele, hoje não há nenhuma lei que ampare e proponha proteção com delimitação de horário e tolerância de decibéis. “Não estou limitando nada. Estamos possibilitando que ao menos em duas vezes sejam com a segurança dessa lei”, argumenta o vereador proponente da regra.

INTERRUPÇÃO

Um setor que enfrenta problemas é o tradicionalista. Os centros de tradições gaúchas (CTGs) estão sujeitos a denúncias de vizinhos, tanto em ensaios como em bailes, devido à poluição sonora. Isso levaria ao fechamento, com frequência, dos eventos. Há inclusive reclamações de truculência nas abordagens de equipes de segurança.

Conforme Andrei Barboza, a Lei do Galpão garantiria dois ensaios por semana, amparados com um pouco de excedência no horário e na emissão de decibéis. “A nossa lei pretende estender e dilatar esse horário e ampliar a tolerância pelo
menos duas vezes na semana. Se a entidade quiser continuar realizando os seus ensaios nos outros cinco dias, perfeito.
Mas a nossa lei ampara duas vezes”, pondera.

O vereador explica ainda que o projeto não engloba todos os dias porque é necessário bom senso com a vizinhança. Diante da polêmica, o parlamentar sustenta que todos os aspectos foram postos para discussão. “Como falei em algumas oportunidades, o texto não estava bem pronto. A gente vinha construindo esse documento”, argumenta Barboza, lembrando que as três semanas de tramitação do projeto na Câmara são justamente para os ajustes.

PAUSA NO ANDAMENTO

O Conselho Municipal de Cultura apresentou à Câmara um pedido de pausa na tramitação do projeto de Barboza. De acordo com o presidente do órgão, Jacson Franco, há a compreensão de que a proposta “não é democrática”. “O vereador não ouviu os segmentos culturais afetados e estipulou regras com base em apenas um”, avalia.

Para Franco, a questão do som envolve diferentes secretarias do governo municipal, como a de Cultura e a do Meio
Ambiente, além de Ministério Público, Guarda Municipal e Legislativo. “Essas regras são muito restritivas em relação à possibilidade de expressão de cada grupo cultural e podem configurar uma espécie de censura, inviabilizando a continuidade das práticas, podendo inclusive ferir o artigo 216 da Constituição”, alerta, referindo-se à norma constitucional que define o que forma o patrimônio cultural brasileiro.

O presidente do Conselho de Cultura revela que recebeu relatos de violência com diferentes entidades. A partir disso, questiona se o problema é mesmo com o som ou se é intolerância em relação às expressões culturais. “A sociedade anda com um nível de estresse muito elevado e, portanto, intolerante com o espaço do outro na questão cultural”, reflete Franco.