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Protestantismo e capitalismo? 5528

Considerada uma das obras mais importantes da sociologia, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber, trata da relação básica entre a presença de uma ética religiosa e o surgimento do capitalismo moderno. O ponto de partida da tese de Weber é o objetivo declarado dos reformadores (Lutero, Calvino e Zwingli): cultivar a religiosidade individual do cristão a um disciplinamento de sua personalidade. Tal cultivo seria istrado de acordo com alguns aspectos – cito dois importantes: (I) a ideia do valor do labor numa profissão e (II) a doutrina da predestinação, ancorada nos pressupostos de Santo Agostinho.Quanto ao primeiro aspecto, Weber afirma que Martinho Lutero viu na profissão uma das tarefas de realização da vida cristã. Ou seja, à luz da graça divina, o trabalho é visto como uma vocação (disposição natural do espírito), logo, um valor intrínseco da família cristã.O segundo aspecto (a “doutrina da predestinação”) – que afetou o calvinismo – ensina que todos os eventos da vida terrena são prescritos por Deus. O que é crucial nessa doutrina é que a decisão de Deus é absoluta sobre todos os aspectos da vida. Isso levanta a questão sobre como o calvinista devoto deve viver. Questionamento que se mostra indiferente, dado que, independente do modo de vida, o destino de tudo e de todos é traçado unicamente por Deus.Nesse sentido, Weber interpreta, a tarefa do trabalho profissional (enfatizado por Lutero) seria um meio de reagir ao medo religioso que afetava os fieis, sobre qual seria o seu destino (preocupação dos calvinistas, sobretudo), pois a incansável dedicação a uma profissão poderia apresentar alguns sinais da graça divina – de que forma? Ora, como saber se Deus destinou a um determinado cristão a salvação ou a danação? Basta que ele procure os sinais da graça divina no trabalho diário: se ele exerce o seu trabalho de acordo com os parâmetros da cristandade, e se ele atinge o sucesso, então é sinal de que Deus o destinou à salvação.Sob esses aspectos, Weber afirma que os cristãos reformados aos poucos se compactuaram em um novo padrão de comportamento, padrão que ele se referiu como sendo o “ascetismo interior-mundano”: o agir no mundo pelo viés do trabalho abnegado, que implica não consumir mais do que o básico para a subsistência humana. Esse ascetismo protestante justifica, para Weber, o acúmulo de capital. A postura ética do Protestantismo, nessa perspectiva, sustenta a condição de que os indivíduos que lucram grandes quantias de capital não devem ser entendidos enquanto usurpadores do tempo dado a eles por Deus (como afirma Tomás de Aquino ao se referir à usura), mas, sim, enquanto privilegiados de Deus: um reconhecimento do sinal da salvação. Por fim, Weber afirma que a ética protestante favorece o individualismo, uma vez que implica o estar só diante de Deus, na procura incessante dos sinais da salvação por meio do trabalho. A afirmação de que tal relação possui ou não um fundamento lógico que mereça nossa credibilidade, cabe ao leitor com estudos mais apurados sobre. Contudo, creio ser um tema enriquecedor para o debate. 242p6l